Laços de seda


Não sabia como seria o teu cheiro ou até mesmo a curva do teu sorriso com ou sem covinhas.
Queria que me visses a sorrir neste momento... será que sentes as lágrimas a quebrar o trajeto nos meus lábios?

São tantas as perguntas e tu ainda tão pequenino a ouvir os meus anseios, sonhos e desejos. Apaziguo-te com a minha mão fria e trémula no alto mais pontudo que consigo ver na minha barriga... e estremeces! São esses movimentos que já sei de cor, toco duas vezes no lado em que estás e foges-me ou quando queres ser teimoso respondes-me com um toque ainda mais pesado. Rio-me porque tens o feitio teimoso do teu pai e a necessidade de te esconderes do mundo como a tua mãe. Sei que tornas-te irrequieto quando sentes o cheiro a comida que cozinho, sinto-te a rebolar aí dentro... por outro lado, as bolachas que molho no leite quente antes de dormir dão-te a serenidade total. À voz do teu pai os teus gestos tornam-se lentos e à minha voz eu desperto-te!

Por isso, tudo o que falo e quero que guardes está a ser escrito, e essa necessidade torna-se intensa quando juro por tudo que acredito que ouves estes meus pensamentos em palavras aí contigo.
Estou sentada na cadeira de madeira com almofadas de pelo branco e cinza que a avó comprou para a mãe. Maior parte do tempo tento aquecer as minhas mãos na camisola de lã amarela antes de te tocar. O meu cabelo está apanhado numa trança feita à pressa e sem jeito, com fios a cair pelo meu rosto que os tento constantemente por atrás da orelha. A mão que te toca tem um pulseira prateada com umas linhas rosas claras que o teu pai me deu e que sentes certamente a passar por ti. A minha outra mão é a que te escreve, filho.

Estás irrequieto de novo, sentes o cheiro de longe vindo da cozinha, mexes-te ainda mais quando dou uma gargalhada estridente... e sabes que vais parar para escutar de novo. O teu pai traz uma chávena de chocolate quente, vem descalço e com aquele sorriso parvo que conhecerás.
Ficas imóvel quando o pai e a mãe tocam em ti, já não estremeces porque sentes que o que te une é amor.


Agora só para nós....
escuta bem... 
(tenho de sussurrar)
aqui vai: 

O pai é estupidamente estranho, é envergonhado e sorridente, uma combinação que a mãe se rendeu e que tu podes achar esquisito...
A mãe estará sempre com um livro na mão (no mínimo)... ou na mesinha de cabeceira, na mala, no carro, na mesa da cozinha. É o rastro que a mãe deixa, por isso se a perderes tu encontra-la!
O pai bebe sempre leite antes de dormir, como tu vais beber durante algum tempo. Continua estranho, eu sei...
A mãe gosta e insiste em cantar, mesmo soando mal e o pai (sim ele só torna tudo, de novo, mais estranho) canta como voz de fundo

A mãe sonha, multiplica, cria e o pai gosta de concretizar os sonhos.
O pai ri, luta, chora e a mãe acompanha-o de mão dada.

Mais quieto, apenas sinto um toque, rimo-nos ... 

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