A leitura e a escrita na minha vida


Uma criança irrequieta com ânsia de poder descobrir a imensidão que me rondava, essa era e ainda sou eu, prazer! 

Ainda me lembro de me deitar no meio dos meus avós para ouvir as mais diversas histórias que me contavam, mas sem livros, apenas com a imaginação deles e aí eu perdia-me e o sono fugia. Como poderia adormecer se eu queria fazer perguntas de milhentas coisas, a minha mente acelerava... não me podiam obrigar a acalmá-la para fechar os olhos e esquecer tudo.
Foi aí que tive contacto com as histórias, não em livros, mas na imaginação dos meus avós.

Cresci com tantas lições que só quando paramos nos damos conta.

O meu avô não sabia ler, apenas sabia de cor os símbolos das letras para escrever o seu nome, no entanto tinha uma facilidade no raciocínio matemático incrível. Lembro-me de ele tentar ensinar-me a contar até dez, naquela altura tinha 5 anos, idade ideal para simplesmente não ligar nenhuma. Não por mal, mas porque preferia brincar ao escorrega com ele ou ver o mundo ao contrário quando me deitava nas suas pernas de barriga virada para cima.
Em contrapartida, a minha avó sabia ler e sabia latim graças a muitos textos e cânticos da igreja. A fé da minha avó era inabalável! Recordo-me de a ouvir cantar em latim, fiquei fascinada e juntei-me a ela. Com as suas mãos trémulas apontava para as palavras para permitir que a acompanhasse.

A vontade para escrever surgiu-me mais cedo do que a de ler. A minha mãe tinha imensos livros do curso de esteticista, eu folheava-os um por um, nessa altura as imagens não me chamavam à atenção, mas sim as letras. Dentro do berço estava eu, esses livros, uma caneta e ao meu lado os meus pais na cama com o meu irmão ainda bebé. Eu abstraía-me de tudo, a atenção era redobrada e focada para as páginas à minha frente. Aos poucos, tentava reproduzir todos as formas das letras ao lado delas, aprimorando até chegar a ser idêntica às que via.
À medida que o tempo ia passando, já não me contentava com a tentativa de reprodução de letras, estava curiosa por saber o que queria aquilo tudo dizer. Quando ia à missa, havia uma folha dominical com a mensagem da palavra e informações da paróquia. Eu sentava-me no chão, atrás dos bancos e olhava para cada uma das pessoas com a folha. Atenta, tentava ler os lábios de muitas delas para perceber o que estava lá escrito e ao mesmo tempo, com a mesma folha eu tentava encaixar as palavras.

A leitura e a escrita tornaram-se nesse momento o motivo da minha maior curiosidade, em saber o que todo o mundo lê e o que diz cada pedacinho de papel escrito, que eventualmente passaria por mim.

Queria saber ler e escrever porque queria ler o que ninguém mais leu e escrever o que mais ninguém escreveu.

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